Blog do Ber

17 dezembro, 2017

A GALINHA DOS OVOS DE OURO

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Ano que vem a mercearia da família Assada no Shangrila faz 50 anos – o que quer dizer que há 50 anos, toda a manhã, minha amiga Miyeca Assada enche essa cesta de galinha de arame com ovos cozidos. Essas cestinhas acho que nem existem mais, mas na infância de Londrina eram onipresentes nos bares e nos guarda-comidas das casas, reabastecidas sempre com ovos das galinhas do quintal.

Teve uma época que Miyeca colocava casca de cenoura na água do cozimento e os ovos chegavam ao balcão amarelinhos, encantados, te a cestinha virava a galinha dos ovos de ouro. A freguesia era feita de trabalhadores do mercado, agricultores que fazem entrega no Shangrila, gente que trabalha ali por perto e aparece pra matar a fome.

O Mercadão do Shangrila foi inaugurado em 54, mas só em 68 a prefeitura liberou os boxes para feirantes que quisessem se estabelecer por lá. A família Assada começou com uma porta, foi ampliando aos poucos. Miyeca era meninota em 68. Foi aluna do meu primo Domingos no cursinho. Pegava Kombi toda a noite pra estudar em Apucarana, se formou em Letras, mas sua vida sempre foi ali, na lida.

A mercearia virou bar e loja. Serve almoço durante a semana e aos sábados e domingos ninguém acha lugar pra sentar, virou ponto turístico. A turma vai de pastel e bolinho de carne — acho melhor do que o bolinho premiado do Lorena, ali perto. Frequento a mercearia desde os anos 80, quando comecei a trabalhar nos estúdios de vídeos ou nas TVs que se concentram no bairro.

Gosto do sossego do Mercadão durante a semana. Compro atum ou salmão na peixaria ali do lado, peço já cortado pra sashimi. Depois sento na mercearia, Miyeca me consegue shoyu e limão, às vezes wassabi e hashi. Miyeca sempre tem uma lembrança prá gente percorrer.

Na segunda cerveja compro dois ou três jornais na banca Flamengo, à entrada do mercado e fico ali atacando o peixinho, bebericando e brigando com as noticias – na quarta garrafa a realidade começa a ficar mais divertida. Depois vou pra casa dormir que ninguém é de ferro. Mas antes sempre faço um brinde a esses lugares mágicos (e esses personagens encantados) que nos marcam a vida.